sexta-feira, 19 de outubro de 2012

The Sandman Vol. 8 - World's End

Autor: Neil Gaiman
Artistas: Bryan Talbot, Alec Stevens, John Watkiss, Michael Zulli, Michael Allred, Shea Anton Pensa, Gary Amaro

***

Yo! How's it going?

Chegou a hora de mais uma dose mensal da série "The Sandman", escrita pelo autor inglês Neil Gaiman. Aqueles que a desconhecem por completo podem acessar minha primeira postagem sobre a franquia para conhecer o icônico trabalho de Gaiman que reverbera pela mídia há quase duas décadas, contribuindo significativamente para o amadurecimento e valorização do mundo dos quadrinhos enquanto forma de arte. On to it, then.

Plano de fundo: Brant Tucker e Charlene Mooney são colegas de trabalho viajando até Chicago. Uma tempestade acaba por desviá-los de seu destino original, provocando um acidente tão terrível quanto misterioso. Feridos, os dois caminham até a construção mais próxima, uma taverna cujo nome é World's End (Fim do Mundo).

Rodeados de figuras estranhas e folclóricas, Brant e Charlene fazem parte agora de um ritual peculiar de contos de mesa de bar, todos igualmente alegóricos e altamente surreais. O que eles e seus interlocutores ainda não sabem, porém, é a verdade sobre a taverna onde se encontram, e descobrir seu  propósito será uma viagem tão profunda quanto complexa que os mostrará um outro lado do grande quadro que chamam de realidade.

Papum: Yes, Neil Gaiman has done it again. Através de perspectivas singulares e contos que se abrem como verdadeiras pétalas de uma rosa, "World's End" leva o leitor a diferente mundos e realidades para sempre retornar ao ponto de origem entre uma e outra história, balanceando o timing de seus contos de modo impecável e abrindo espaço para uma digestão apropriada do que foi lido. Afinal, não é qualquer um que consegue escrever contos dentro de contos dentro de outros contos, e a habilidade de Gaiman no ramo é inquestionável, o que pode ser ainda ampliado com as ricas, embora sutis, referências literárias durante a obra. E elas existem. Ó sim, como existem, e qualquer conhecedor casual de Shakespeare,  Dickens e afins pode encontrá-las.

Trabalhando em uma forma consagrada de narração de contos em uma roda de personagens e remetendo claramente ao genial trabalho de Geoffrey Chaucer em "The Canterbury Tales", Gaiman mescla originalidade e elementos conhecidos para montar suas histórias com solidez e desenhá-las sobre um plano entre mundos e realidades que impressiona em seu clímax e desfecho. Para que tal feito seja atingido, nada melhor do que diversos artistas para trabalhar com o autor, resultando em uma estratégia muito efetiva: cada conto é ilustrado por um desenhista diferente, mas sempre que o foco retorna à taverna/pousada World's End, Bryan Talbot retoma o fio da meada condutora para iniciar seu novo plano. Tal sequência é realizada durante as seis edições que montam a coletânea e o arco "World's End" em si, e como de costume, Gaiman guarda suas maiores reflexões para o final da obra, o ponto para explicar (ou não) o que todas aquelas personagens têm em comum e o porquê de estarem ali. O produto final é louvável e tocante, mais uma vez remetendo a um senso de insignificância humana perante o tear do universo, assim como realizado em "Brief Lives". Aqui, porém, a profundidade é ainda maior ao vermos que não são só humanos que analisam a si mesmos, mas até mesmo personagens vindos de mundos de fadas ou mortos. A reflexão culmina, então, na tempestade que os juntou na taverna, em um acontecimento que ecoa por todas as realidades e os faz estar ali. Há um funeral e a presença de Morte e Destino, e embora ninguém saiba o que de fato jaz no caixão, a tempestade cessa e todos devem voltar para casa. Levando em conta seu conteúdo, é possível termos duas interpretações: esse é o funeral de Orfeu, filho de Morpheus falecido no arco anterior, ou é uma realidade que acaba de morrer, e o balanceamento das restantes acaba de ser feito, tal como a série infanto-juvenil Withern Rise/Aldous Lexicon prega tão simploriamente em seu capítulo final, "The Underwood See". Diante de um prospecto de tamanha dimensão, é natural que qualquer forma de vida se torne pequena.

Outro fator que merece destaque no trabalho de Gaiman aqui é sua habilidade e variação linguística para tratar de suas personagens. Vindas de mundos e épocas diferentes, cada uma tem seu vernáculo e vícios de linguagem, muito bem desenvolvidos pelo escritor. Igualmente bem planejada é a jornada dentro de cada conto, que por vezes abre caminho a mais um conto dentro daquele, estratégia dificílima que poderia por em risco todo o balanceamento da obra. Contudo, Gaiman é inteligente e não se perde em seus fios, saindo triunfantemente de cada conto para retornar ao abrigo seguro da taverna antes de recomeçar.

Por fim, fica apenas uma indagação: seria "World's End" realmente parte de "The Sandman"? Embora intrigante e inteligente, tenho a sensação de que o arco não tem uma conexão muito clara com a personagem que protagoniza a franquia, o que pode por em dúvida sua presença na coleção. Isso não quer dizer que a obra é dispensável ou ruim, vejam bem. Ressalto apenas que talvez Gaiman tenha usado seu título já conhecido para escrever histórias que dificilmente ganhariam atenção caso inteiramente novas, o que é de fato interessante. Mesmo assim, em termos de continuação, fico com a impressão que pouco foi adicionado à mitologia da personagem central, o que torna seu rumo futuro ainda mais incerto. A única certeza que temos é que, com Morpheus ou não, as histórias de "The Sandman" são particularmente ricas, e isso ninguém pode negar.

Agora 'nuff said. Continuem a seguir o blog e até a próxima!

***

In a nutshell:

- The Sandman Vol. 8 - World's End -
Thumbs Up: staff de desenhistas em plena harmonia com o intuito de Gaiman; histórias tão criativas quanto complexas; clímax potente e grandioso; referências literárias que engrandecem a obra;
Thumbs Down: falta de uma conexão forte com o restante da franquia;

Nenhum comentário:

Postar um comentário